Estou mudando o blog

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segunda-feira, janeiro 16, 2012

A EXPERIÊNCIA - CAPÍTULO #10.5

Em que temos a chocante revelação de que Valdeci virou um emo

(No sofá estão sentadas três crianças: Tommy, de 10 anos; Penny, de 9 anos; Edilamar - um garoto - de 7 anos. Os três parecem estar em estado de animação suspensa, olhando como hipnotizados para uma garota de cabelos rosa-choque berrantes na TV à sua frente. Um homem e uma mulher de jaleco observam a cena em um monitor)
SCIENCE GUY - Precisamos aumentar em 7,5% o brilho e a saturação da tinta de cabelo de Marimoon. Objeto de Estudo Gama está piscando os olhos.
SCIENCE LADY - Hmmm?
SCIENCE GUY - Eu disse: precisamos aumentar em 7,5% o brilho--
SCIENCE LADY - Desculpa, mas por acaso meu gemido o fez pensar que a sua última frase terá algum mísero significado para a minha existência? Eu só estava sendo educada.
SCIENCE GUY - ...
(Science Lady dá um longo suspiro)
SCIENCE LADY - Desculpe, eu não quis ser mal educada. É que...
SCIENCE GUY - Tá, tá, tá bom. Isso é difícil pra mim também, sabia? Já é ruim o suficiente sem ter que aguentar sua TPM.
(Em silêncio os dois voltam ao trabalho. Alguns minutos depois, quando Timmy e Jenny chegam ao laboratório, a nuvem de mau humor se dissipa, apenas para ser substituída por um furacão de terror e ansiedade)
SCIENCE PEOPLE - C-Chefe!
TIMMY - Relatório. Agora.
(O homem se levanta com um sobressalto. A mulher parece se comprimir com cada vez mais força contra sua cadeira)
SCIENCE GUY - S-s-sim! O... quer dizer, a... a... a...
SCIENCE LADY - Precisamosaumentaremseteemeioporcentoobrilhoeass--
SCIENCE GUY - ...saturação da tinta de cabelo da Marimoon! Objeto de estudo Gama--
TIMMY - Onde está o gráfico de oscilação da voltagem dos eletrodos?
(A mulher entrega uma prancheta para Timmy, que agora também está vestido com um jaleco. Jenny se aproxima para olhar melhor o conteúdo dos papéis)
TIMMY - Mesma coisa. Quarta semana consecutiva sem nenhuma mudança.
(O casal se entreolha com apreensão)
SCIENCE LADY - Chefe, vai ser muito difícil recriar as condições do primeiro experimento. Talvez--
(Timmy retira casualmente uma caneta do bolso e comprime o botão em sua extremidade. Os dois pesquisadores imediatamente começam a tremer violentamente, despencando de seus assentos e assumindo posturas bizarras no chão do laboratório)
TIMMY - O que é que falta fazer? Já aumentamos em 47% a exposição a textos com erros ortográficos tirados da internet...
JENNY - A concentração de anúncios de serviços via mensagens SMS também nunca foi tão alta como agora.
TIMMY - Você ouviu a porta do elevador?
(A porta do laboratório se escancara subitamente. No corredor surge um adolescente por volta dos 13 anos de idade. Uma espessa camada de base em seu rosto tenta realizar a dupla tarefa de amenizar a acne a as assimetrias de sua face pós-púbere. Seus olhos são acentuados por grossas linhas de rímel; há um borrão em volta da pálpebra esquerda, que não pode ser percebido pois todo o olho esquerdo está encoberto por uma longa e lisa franja unilateral, com luzes de cor verde fosforescente. O restante do cabelo é curto e preto, com raízes castanhas. O rapaz está vestido com calças jeans e um top preto, deixando seu umbigo à mostra. A camisa parece ser estampada com uma ilustração de quatro zumbis deformados, identificados com as letras "NX ZERO". Suas unhas foram cuidadosamente pintadas para ficar com a coloração de esmalte preto roído. Ele entra e senta-se ruidosamente no sofá, com os braços cruzados, e dá um suspiro amplo e silencioso)
TIMMY E JENNY - ...
(O adolescente olha para os demais. Depois dá outro suspiro e parece prestes a chorar)
VALDECI - Nada nunca dá certo pra mim. Não espero que vocês entendam, claro.
TIMMY - Jenny, acho que para o próximo passo realmente vamos precisar de ondas subliminares de baixa freqüência.
VALDECI - Ninguém nem tenta me entender. Todo mundo preocupado com seus problemas idiotas e mundanos, nem ligam pra dor que eu estou sentindo.
JENNY - Eu continuo achando que nossa abordagem tem que ser mais direta; só porque o Professor era contra o uso de injeções não quer dizer que a gente precisa fazer o mesmo.
(Valdeci chora copiosamente)
TIMMY - Mas nada garante que isso vá acelerar o andamento da experiência; muito pelo contrário--
VALDECI - VOCÊS SÓ QUEREM ME USAR! Vocês fazem idéia do peso, do fardo que eu estou carregando? NÃO!!! Mas não tem problema, por que no final vocês vão se arrepender, vocês vão sentir a MESMA DOR que eu estou sentindo!!!
(Valdeci bate dramaticamente a porta ao sair do laboratório)
TIMMY - ...
JENNY - Sabe Timmy... será que vale a pena mesmo?
TIMMY - O que vale a pena?
JENNY - Isso. Isso tudo que estamos fazendo. Aquelas crianças...
TIMMY - Jenny, você leu o diário do professor. Você tem visto o que está acontecendo nas ruas. Alguém precisa se preparar para o que está por vir. Dadas as circunstâncias nós somos os únicos que ainda podem fazer algo. Certo?
(Jenny desvia o olhar por alguns momentos. O casal de cientistas ainda convulsiona no chão; parece que Timmy se esqueceu de desligar o botão da caneta)
JENNY - Eu só acho que... às vezes você precisa de um descanso. Só isso.
(Jenny dá as costas para Timmy. Ele pára um momento para pensar no que acabou de dizer. Não tinha sido completamente sincero com Jenny. A verdadeira razão pela qual reativou a Experiência; aquela tarde, entre as nuvens, em meio ao céu azul, quando tudo parecia perfeito. Ele iria recuperar aquela sensação, custe o que custasse)


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Leia todos os capítulos em http://a-experiencia.blogspot.com
A EXPERIÊNCIA - CÁPITULO #10

No qual descobrimos o que as crianças, agora crescidas, andaram fazendo após exterminar o exército de clones do Rafa da MTV e frustrar os planos de dominação mundial de Nizan Guanaes

JENNY - Abre a boca.
JIMMY - Aaaaaaaahhhhhhhhhhhh...
(Jenny equilibra entre os lábios um pedaço de chocolate Kit Kat e se aproxima do rosto de Jimmy. Jimmy abocanha a outra extremidade do chocolate, e por um momento os dois se olham, e sorriem encabulados. Parecia mais fácil em "A Dama e o Vagabundo" - será que seria mais natural se fosse com espaguete ao invés de chocolate? Jimmy tenta se aproximar mais, mas Jenny é mais rápida. Seus lábios se tocam. Um beijo que não é um beijo; com a língua Jenny tenta saborear ao máximo o pequeno pedaço de Kit Kat que propositadamente deixou com Jimmy. Seus lábios se separam)
JIMMY - Você sempre faz isso.
(Jenny dá um olhar vitorioso)
JENNY - E aí? Vai fazer alguma coisa?
JIMMY - Tudo o que você quiser.
(Jenny se esparrama sobre os lençóis da cama e olha para Jimmy. Ela está usando uma camisola branca; ele, por algum motivo, usa um jaleco branco sobre uma camiseta e shorts. "De mau gosto mesmo seria se ele estivesse de meias", pensou)
JENNY - No que é que você está pensando?
(Jimmy passa vários instantes em silêncio, olhando para Jenny, com uma expressão fixa no rosto)
JENNY - ...não era isso. Deixa eu me lembr-- ah tá. No que é que você está pensando agora?
JIMMY - Todos esses anos eu estava perdido em uma obsessão com meu trabalho, sem pensar em outra coisa. Eu estava obcecado, eu diria. Mas agora eu percebi que algo estava faltando, algo que estava ao meu lado o tempo todo, algo que quase perdi devido à minha obsessão, só pensando em meu trabalho. Pois agora percebo que estava apenas obcecado.
JENNY - Talvez eu tenha que rever a gramática um pouquinho.
TIMMY - Jenny?
(Jenny ruboriza intensamente. Por algumas frações de segundo permanece completamente imóvel, como se tivesse esquecido de como mover os próprios braços, mas então se lembra de alcançar um pequeno botão localizado atrás de sua orelha direita. O mundo ao seu redor estremece; a cama, os lençóis, Jimmy, tudo desaparece, como se alguém tivesse apertado o botão de desligar da TV. Só que o que Jenny desligou não foi uma TV, apenas o capacete branco e redondo que nas últimas duas horas cobria seus olhos e boa parte de seu rosto. Através do visor desligado ela vê Timmy, de pé, próximo à porta de seu escritório)
JENNY - Timmy! Eu estava... estudando.
TIMMY - Você passa tempo demais no iHead.
(Envergonhada demais até para fazer o mais sutil dos movimentos, Jenny passa todo o restante da conversa parecendo um estranho alienígena cabeçudo com um visor metálico)
JENNY - Já... já... teve notícias de Valdeci?
TIMMY - É sobre isso que precisamos conversar. Eu estou quase desistindo de usar o Valdeci na Fase 3. Do jeito que o cronograma está atrasado acho que vai ser a melhor opção a longo prazo.
JENNY - Certo...
TIMMY - Já fez a análise dos números F30201 a F30300?
(Jenny não se lembrava da última conversa entre eles que não envolvesse suas obrigações na Experiência)
JENNY - Objetos de Estudo Alfa e Beta continuam exibindo as alterações de consciência periódicas durante o MTV Lab. Objeto Gama apresenta contrações abdominais rítmicas, média de 8 episódios de vômito por dia e comportamento auto-mutilador durante o Pimp my Ride.
TIMMY - OK. Se quiser mande o relatório por e-mail.
(Jenny Não quis dizer a Timmy que não fazia sua parte na análise dos dados há várias semanas, e que tinha acabado de inventar aquelas informações. Sabia, porém, que o que quer que tivesse acontecido com as crianças Tommy, Penny e Edilamar naquela semana não deveria ter sido muito diferente do que vinham observando nos últimos meses)

quarta-feira, abril 12, 2006

O título do blog já entrega, mas este blog passará por algumas mudanças após ser reativado. Mais detalhes em breve.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

INTERLÚDIO 9 - Boca a boca
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(Diversas pessoas são entrevistadas na saída de uma sala de cinema para comentar sobre o filme "Didi - O Caçador de Tesouros")
HOMEM DE CAMISA POLO - É o melhor filme que eu vi até agora neste ano, melhor ainda que "Dois Filhos de Francisco" e "Operação: Babá"!
MULHER CAUCASIANA DE CLASSE MÉDIA - Nossa, muito bom o filme, dá pra levar toda a família. E não estou dizendo isso só porque a única forma de convencer as pessoas em casa a assistir ao filme é mostrando uma amostra completamente não enviesada de vários espectadores saindo do cinema e comentando como adoraram o filme, e como sem a Globo Produções um filme com tanta qualidade jamais teria saído do papel, e como gastarei o dinheiro que ganhei após assinar o termo de autorização de uso de imagem para este comercial.
HOMEM DE BARBA - Belíssimo, é a coroação do talento dramático de Renato Aragão.
CRIANÇA HIPERATIVA - Adorei! Adorei! Adorei!
HOMEM VISIVELMENTE DESCONFORTÁVEL COM A CÂMERA - Não, não, eu não vim assistir o filme do Didi. Sim, eu sei que eu estava saindo da sala agora mesmo. Sei também que é o único filme em exibição em todos os cinemas da cidade. Como assim meu chaveiro dos Trapalhões entregou o jogo? Isso vai aparecer na TV?
MULHER DE SEMBLANTE PRETENSIOSO - É um filme muito emocionante, eu até chorei em duas ocasiões. Também bocejei em quarenta e cinco ocasiões, olhei para o relógio em vinte e seis ocasiões, tirei meleca do nariz em oito ocasiões e ri em duas ocasiões. Isso era pra ser uma comédia?
VICIADO EM CRACK - Muito bom, muito bom.
FUNCIONÁRIA PÚBLICA - Muito bem feito, eu e meus filhos adoramos.
CRIANÇA HIPERATIVA - Adorei! Adorei! Adorei! Adorei! Adorei!
GAROTA COM GRAVE PROBLEMA DE ACNE - Lindo! Me emocionei muito.
HOMEM DE ÓCULOS - Eu sou retardado mental!!!
CRIANÇA DE CABELOS ESPETADOS - Eu também!!!
SENHORA DE CABELO BRANCO - Dããããããããã!
CASAL DE NAMORADOS - Dããããããããããããããããã!
GRUPO DE ADOLESCENTES - Dãããããããããããããããããããããããã!
MULHER COM RASTRO DE SALIVA NO CANTO DA BOCA - Cocô nas calças!
TODOS - Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê!

segunda-feira, janeiro 09, 2006

OUTDOOR ASSUSTADOR 8 - Puta merda. PUTA MERDA. Lá estou eu, chegando em casa, depois de 4 horas de pé no centro cirúrgico, 4 horas de jejum forçado , 4 horas ouvindo os gritos do preceptor no meu ouvido e de todos na sala, 4 horas de cãibras intermitentes nos dedinhos do pé, após conseguir de alguma forma me arrastar até o ponto de ônibus para pegar o carro (que por pouco não se mandou sem mim), quando desço no ponto em frente ao meu prédio para me deparar com um OUTDOOR GIGANTESCO DE ACM NETO NA MINHA RUA.

Parei por alguns segundos, domei o ímpeto imediato de dar meia-volta, e segui em frente. Prendendo a respiração para controlar a ânsia de vômito, mas consegui chegar em casa.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Se os intervalos comerciais são a expressão daquilo que há de mais culturalmente relevante num determinado momento em nossa sociedade, então podemos dizer que os interesses do ser humano atual convergiram para três necessidades básicas: carro, perfume e telefone celular. Mais especificamente: os intervalos comerciais parecem exibir APENAS propaganda de carro, perfume, e telefone celular. Mas então isso significa que estas são únicas coisas que as pessoas compram nos dias de hoje? Eu não tinha pensado ainda nas possibilidades que este admirável mundo novo trará para a existência humana, mas não é necessária muita imaginação para termos um vislumbre de como será nossa vida daqui a alguns poucos anos:

***

- Mamãe, o que vamos jantar hoje?
- Perfume.
- De novo???
- Sim, hoje é 212 Sexy by Carolina Herrera. E agradeça que não estou obrigando você a comer o Nokia da sua irmã.

***

- Doutor, esse sangramento não quer parar!
- Pinça hemostática, pinça hemostática!
- Aqui está.
- ...por que você está me dando seu celular?! Eu disse pinça hem--
- Temos Sony Erickson T237, Samsung X427, Nokia 1100 e até um LG VX4500. Tem também um frasco de Flower by Kenzo que a gente usou pra fazer a antissepsia. Serve?
- ...
- Doutor, acho que vamos precisar da máquina de circulação extracorpórea...
- Ih, nem vai dar. Ela foi substituída por um Vectra 2006 mês passado.

***

- Marilurdes!!! MARILUUUUUUUUURDEEEEEEEEEEES....
- Zé Carlos!!! Tô aqui, Zé Carlos!!!
- Oh, Marilurdes, graças a Deus... Pensei que tivesse perdido você pra sempre...
- As crianças, Zé Carlos, onde estão as--
- Calma, calma, elas estão bem, estavam comigo antes de a casa... Oh meu Deus...
- Oh, Zé Carlos, foi horrível, horrível... Perdemos tudo, tudo!!!
- O que foi que aconteceu?
- Foi, horrível... os celulares tocaram todos ao mesmo tempo... as paredes não agüentaram...
- Marilurdes, deu pra salvar alguma coisa?
- Perdemos tudo... o Gol, o Corsa, a S10, o Palio... A BMW!!!
- Deus do céu...
- A gente tentou tirar o Fox, mas tinha muita poeira... CAIU TUDO, ZÉ CARLOS!!! TUDO!!!
- Calma, calma, tá tudo bem, tudo bem agora...
- Zé Carlos...
- Marilurdes... você tá cheirando muito bem, sabia?
- É Touch of Pink by Lacoste. Caiu um frasco em cima de mim quando as paredes começaram a tremer.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Será que o galinho Chicken-Little sabe que no McDonald's se serve CARNE DE GALINHA???

Acho que aquele amiguinho porco dele também corre um certo risco.
Acho interessante que o único critério de seleção de participantes para "Os Convocados" seja a quantidade de Coca-Cola que eles bebem.

Esse eu vou assistir.

domingo, outubro 16, 2005

*SIM*
Vote no SIM! O SIM é super legal! O SIM é bacana! SIM gosta de ursinhos de pelúcia e sorvete de chocolate com flocos! A Angélica vota no SIM, sabia? Eu gosto da Angélica. Sabe do que eu também gosto? Ursinhos de pelúcia! Opa, que coincidência, O SIM também gosta de ursinhos de pelúcia, eu já falei isso? Puxa, o SIM é tão legal! Por que você não vota no SIM? Assim, vamos todos poder ir para o parque de diversões, comer algodão doce e brincar no pula-pula! SIM é +QD+!!!

*NÃO*
Não confie no SIM! O SIM está tentando confundir sua cabeça! O SIM deixou a cidade em completo caos no último mandato, será que podemos confiar nele? E agora o SIM começou a se contradizer na campanha. Afinal, SIM, você apoia ou não apoia o aumento da tarifa de ônibus? O povo está esperando sua resposta, SIM, qual é o problema? SIM se recusou pela terceira vez a comparecer ao debate. O que será que o SIM está escondendo? O SIM está tentando enganar a população!

domingo, outubro 02, 2005

A EXPERIÊNCIA - CAPÍTULO #08
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(Caraca, o que foi aquilo??? Tipo, o Timmy ficou totalmente maluco! Será que ainda há algum fiapo de esperança para nossos bravos telespectadores juvenis? Será que a TV vai continuar exibindo 24 horas de vinhetas sem sentido e clipes do KLB? Será que a Ana Carolina vai aparecer de novo? Será que este narrador vai ser processado pela Skol porque eles acham que eu copiei seu slogan idiota? Eu mal posso esperar para saber!!!)
PROFESSOR - Bom dia, cri-- ...hmmmmm, nada de novo por aqui...
(O professor examina com o olhar as três crianças que se encontram na sala em que acaba de entrar. Timmy e Jenny, sentados em um sofá com marcas de dentes e alguns buracos no estofado, olham fixamente para a TV em um estado de semi-catatonia. Valdeci, sentado no chão, assiste à TV com a mesma expressão, embora com algumas gotas de suor frio escorrendo em sua testa. Nenhuma das crianças parece ter percebido que o Professor entrou na sala. Agindo como se já esperasse esta reação - ou falta dela - o Professsor se adianta em coletar com uma bandeja alguns copinhos de plástico contendo urina no chão da sala)
TV - ESSTE FLÊRTE É UM FLÊRTE FATAL!... ESSTE FLÊRTE É UM FLÊRTE FATAL!...
PROFESSOR - Hmmmm, a da Jenny está menos vermelha que a da última semana... isto é um bom sinal. A de Timmy, vejamos.. só 2 copinhos? Estranho... Timmy, você está se sentindo bem?
(Timmy não responde. O Professor o olha por alguns instantes e percebe que há algo de diferente em Timmy. Ele se aproxima do sofá, e então descobre por que havia três copinhos a menos no chão da sala: há uma mancha de urina no sofá logo abaixo de Timmy)
PROFESSOR - Timmy, meu rapaz, isso não é nada típico de você. Você sabe que não há nada que a gente vai poder fazer quanto a--
TIMMY - AGORA!!!
(Com um movimento súbito, Jenny chuta o professor na altura do peito. O Professor cambaleia para trás e, surpreso por não conseguir se reequilibrar depois do golpe, cai sobre Valdeci que, sem que percebesse, tinha se agachado por detrás de suas pernas. Estatelado no chão, o Professor leva alguns segundos para perceber que as mãos de Valdeci estão encostadas em suas têmporas)
PROFESSOR - Valdeci... Jenny... o que vocês estão...
TIMMY - OK, Valdeci, faça aquela coisa que você aprendeu a fazer com o eletrodo.
VALDECI - Tá bom!
(O Professor deixa escapar um soluço de horror ao perceber que os olhos de Valdeci adquiriram um estranho brilho azulado. As luzes da sala começam a piscar, e Timmy e Jenny se afastam de Valdeci. Subitamente, todas as lâmpadas se apagam, a a única luz na sala vem do intenso brilho azul dos olhos de Valdeci. O Professor se agita e se contorce no chão, em plena crise convulsiva, mas as mãos de valdeci permanecem firmes em sua cabeça. Vários segundos se passam até que as luzes acendam novamente, e o olhos de Valdeci voltam ao normal. Jenny se aproxima e encosta seus dedos no pescoço do Professor, desacordado)
JENNY - Está vivo ainda.
TIMMY - Jenny, Valdeci, tudo bem com vocês?
(Timmy olha para os dois colegas, talvez pela primeira vez em meses. Ele se surpreende um pouco ao perceber que eles de fato estão mais velhos do que eram quando a experiência começou)
JENNY - Sim, nossos eletrodos não foram ativados. É como você falou Timmy, O eletrodo de Valdeci deve estar gerando alguma interferência no sinal da sala.
TIMMY - E já que o Professor não sabia do nosso plano, confirmamos também que o audio desta sala não é transmitido para a estação de controle da experiência. Mas isso não importa mais, vamos sair!
(Com excitação estampada em cada parte de seus rostos, as crianças atravessam correndo a porta que o Professor deixou aberta, que revela um pequeno corredor escuro levando a uma outra porta. A segunda porta se abre após um clique, e as crianças respiram aliviadas ao confirmar que não estava trancada)
***
(Há uma luz encegueirante por alguns instantes, mas logo os olhos das crianças se ajustam para perceber que a luz é proveniente de uma série de lâmpadas fluorescentes no teto. O local para onde elas saíram parece ser o corredor de um prédio militar, terminando em bifurcações dois dois lados, não havendo outras portas além daquela por onde as crianças saíram)
TIMMY - Uaaaaaaaaau...
JENNY - Uau... isso é... uau....
(Sem que percebam, 15 minutos se passam enquanto as crianças olham embasbacadas para cada detalhe do corredor, incluindo um interruptor, uma rachadura na parede e um prego solto no rodapé)
JENNY - ...não. Não! Timmy, acorda! Não temos tempo para ficar admirando as maravilhas do mundo! Temos que fugir daqui!
(Num sobressalto, Timmy e Valdeci piscam os olhos como se tivessem saído de um transe)
TIMMY - Certo, certo, o plano. Valdeci, você já sabe o que fazer se alguém aparecer. Podem ir na frente, tem algo que eu preciso fazer antes...
(Valdeci se adianta em correr pelo corredor, mas Jenny fica parada ao perceber que Timmy está voltando para a sala de onde saíram. Ele agarra no caminho um machado de incêndio e adentra à sala, olhando para o Professor, desacordado no chão, e a TV, ainda ligada)
TV - ...IINNNN-COOOMM-P-LEEEEETE...
(Com fúria assassina, Timmy ataca a TV blindada diversas vezes com o machado de incêndio. Um barulho ensurdecedor ecoa pela sala e para o corredor através da porta, enquanto fagulhas elétricas se espalham a cada golpe e a TV é reduzida a pedaços cada vez menores. Os barulhos cessam, e Timmy joga o machado sobre o que restou da TV, enfim desligada. Jenny, que assistiu à toda a cena da porta, olha profundamente nos olhos de Timmy)
JENNY - Timmy, eu sou sua. Quero que você me possua aqui, agora.
TIMMY - Talvez, depois que sairmos daqui. Agora vamos.
(Os dois se apressam em sair da sala e se juntam a Valdeci, no corredor. Por vários minutos, as crianças correm por uma série aparentemente infinita corredores e bifurcações, guiados por placas de "SAÍDA" que encontravam no caminho. Com a luz cada vez mais escassa, e com a virtual ausência de portas nos corredores, as crianças ficam cada vez mais apreensivas à medida que prosseguem)
VALDECI - Pra onde a gente tá indo?
TIMMY - Quieto, Valdeci, estamos quase lá, tenho certeza. Olha, chegamos!
(O corredor chega ao final, revelando uma enorme porta de aço que, a julgar pela presença de um teclado numérico na parede à direita, está trancada eletronicamente. Á esquerda, uma outra porta, menor, está entreaberta)
JENNY - E agora, por onde a gente vai?
TIMMY - Acho que a saída deve ser essa porta maior... Eu vou dar uma olhada nessa porta do lado, você e Valdeci tentam abrir a porta da frente.
VALDECI - Como a gente faz isso?
JENNY - Ali, Valdeci, naquele teclado de números. Tente dar um curto-circuito...
(Timmy não chegou a ouvir o resto do que Jenny falou, já tendo atravessado a porta à esquerda do corredor. Ele agora se encontra em uma sala escura e apertada, iluminada apenas por uma dúzia de monitores dispostos acima de um imenso console computadorizado. Uma nuvem de fumaça de cigarro paira sobre sala, e sobre o console há duas canecas, uma ainda cheia de café ainda quente, e outra caída, com seu conteúdo escorrendo até o chão. Timmy pensa consigo mesmo que quem quer que estivesse na sala antes de ele ter chegado saiu há pouco tempo, e às pressas)
TIMMY - Peraí... isso aqui é...
(Examinando de perto os monitores, Timmy percebe que todos estão exibindo, de diferentes ângulos, a mesma cena: um homem de jaleco, caído desacordado entre um sofá e uma pilha de destroços onde antes havia uma TV)
TIMMY - Professor... então, aqui é a central de controle da experiência. Mas--
(Timmy arregala os olhos ao perceber que várias figuras vestidas de preto adentraram à sala em que o Professor se encontra. Dois deles carregam rapidamente o professor para fora do campo de visão dos monitores, enquanto os outros se aproximam tanto das câmeras de vigilância que, por alguns instantes, a sala onde Timmy está fica completamente escura. Então, de repente, todos os monitores saem do ar, passando a exibir apenas estática. Timmy hororizado, percorre a sala com os olhos e volta sua atenção para um memorando na mesa , dizendo: "Protocolo 999 iniciado. Evacuem a área imediatamente.")
TIMMY - Oh não... eles estão nos... Jenny, Valdeci!
(Timmy sai em desabalada carreira em direção aos amigos, atravessando a porta que Valdeci conseguira abrir, já esperando o pior. Mas nada no mundo poderia prepará-lo para cena com que se deparou ao alcançá-los: Jenny, caída no chão, parece estar tendo um ataque epilético; Valdeci, encolhido em posição fetal, bate a cabeça contra uma das paredes; e, diretamente na frente de Timmy, uma criatura disforme, locomovendo-se como se tivesse uma grave lesão cerebral, se aproxima lentamente do garoto)
RAFA DA MTV - Faaaaaaaaaala, moçada!

quarta-feira, julho 27, 2005

CLICHÊS DE PROPAGANDA - Parte 2

#2 - "Felicidade numa prateleira perto de você."

É verdade que o consumo é um aspecto fundamental e indissociável das formas de organização social e econômicas do homem atual. O ser humano depende da compra de alimentos que constituem a base de sua sobrevivência, de artigos de vestuário que possibilitam seu convívio em sociedade, de produtos de limpeza que previnem a ocorrência de doenças, de livros que facilitam a aquisição de conhecimento e de artigos artesanais diversos que providenciam conforto espiritual. Mas como justificar a venda de produtos como uma sauna portátil? Esta é a tarefa árdua que milhões de publicitários ao redor do mundo enfrentam cada vez que recebem a tarefa de anunciar um produto de utilidade duvidosa, e as soluções que encontram, como bem sabemos, nem sempre podem ser classificadas como "criativas", "inteligentes" ou "verossímeis".

De fato, o que ocorre na maioria das vezes é a incorporação de propriedades fantásticas ao produto e sua caracterização como fonte de felicidade instantânea pelos meios de propaganda. Assim, um esmalte de unha jamais servirá apenas à finalidade estética de colorir as unhas; ele também proporcionará a mulher que o usa uma promoção na empresa que trabalha, provocará um misterioso acidente naquela vizinha que rouba seus jornais aos domingos e, de quebra, sua loja favorita entrará em liqüidação. Se no começo do comercial o garoto quase perde o jogo de futebol porque a sola de sua chuteira descolou, no final ele terá assinado um contrato com o Real Madrid, tudo por causa dos poderes mágicos da Super Bonder.

Examinem agora o caso da propaganda do Colgate Tripla-ação: aquela família está usando o mesmo creme dental há quantos anos, três? (Grande coisa, o meu eu uso desde que se chamava "Kolynos"). No começo, os membros da família eram simplesmente representações das três ações prometidas pelo produto, além, é claro, da mãe cujo único objetivo na vida é ir ao supermercado para comprar pasta de dente. Mas com o tempo, e ao que parece com a lenta degradação das funções cerebrais dos publicitários que idealizaram a campanha (que já não era um primor da teledramaturgia antes), o creme dental passou a exercer efeitos alarmantes sobre a vida das pessoas ao redor da "família colgate": André está atraindo meninas como se fosse uma mamoplastia gratuita, Papai está numa curva ascendente rumo a três pontes de safena e os dentes de Ana são capazes de partir ao meio uma lata de ervilhas. Não é necessário muita criatividade para imaginarmos como a família estará daqui a alguns anos, enquanto -- não se enganem -- continuam a anunciar para todo o Brasil e América latina os milagrosos poderes ocultos do Colgate Tripla-Ação:

***

INTERLÚDIO 2.2 - Mama don't go, Daddy come home
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LOCUTOR - Aí vem o André, com suas namoradas!
COLGATETES - Que hálito fres-co!
LOCUTOR - Ele teve uma doença venérea batizada com seu próprio nome!
COLGATETES - Colgate tripla-ação!
LOCUTOR - Papai agora está dominando o mundo!
COLGATETES - Que dentes bran-cos!
LOCUTOR - Ele realizou experiências genéticas em seu próprio corpo e agora está enviando sondas para mundos alienígenas em busca de recursos minerais para a construção de uma pirâmide em sua homenagem!
COLGATETES - ...
LOCUTOR - Os dentes da Ana cresceram ainda mais!
COLGATETE VERDE - O quê??? Não é possível.
LOCUTOR - Eles agora são a nona maravilha do mundo!
COLGATETES - ...pro-proteção anti-cáries!
LOCUTOR - São o único monumento visível da lua depois da destruição da muralha da China pela chuva ácida!
COLGATETE AZUL - Ok, pra mim chega.
LOCUTOR - Mamãe foi substituída por uma máquina de refrigerantes que, ao invés de dar refrigerantes, dá Colgate Tripla-Ação!
COLGATETES QUE SOBRARAM - ...colgate tripla-ação!
LOCUTOR - Novas evidências científicas confirmam que Colgate Tripla-ação não aumenta o risco de câncer de pâncreas! Era tudo uma mentira enviada naqueles e-mails, tá? Repetindo: COLGATE TRIPLA-AÇÃO NÃO CAUSA CÂNCER DE PÂNCREAS! Podem voltar a comprar agora, ok? Sério, comprem mesmo. Eu só consigo emprego neste comercial hoje em dia! Ei, aonde vocês estão indo?

quarta-feira, julho 13, 2005

INTERLÚDIO 8 - Livre associação
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(Close em um tabuleiro de Scrabble, com a palavra "Sagatiba" formada pelos blocos de letras)
LOCUTOR - O que será Sagatiba? Será que é uma cidade do interior de São Paulo? Será que...
TELESPECTADOR - Cachaça.
LOCUTOR - ...tipo de-- HEIN?
TELESPECTADOR - Cachaça.
LOCUTOR - ...
TELESPECTADOR - Cachaça, Sagatiba é cachaça. Você ouviu.
LOCUTOR - Sim, mas... peraí, esse produto acabou de chegar ao mercado!!!
TELESPECTADOR - É, mas fica meio óbvio com esse nome. Quer ver? Querida, o que é Sagatiba?
TELESPECTADORA - Cachaça. Com esse nome, só pode ser cachaça.
TELESPECTADOR - Eu avisei.
LOCUTOR - Mas, mas... ela poderia ter ouvido você do outro cômodo!
TELESPECTADOR - Filha, o que é Sagatiba?
MENINA DE 5 ANOS - É aquele negócio que a vovó bebe de manhã pra levantar da cama!
TELESPECTADOR - Viu? Cachaça.
LOCUTOR - Não! Quer dizer, eu... Eu...
TELESPECTADOR - Olha, esse comercial tá demorando muito pra acabar, tá? As pessoas estão mudando de canal.
LOCUTOR - Eu.. Esperem, eu ainda tinha alguns trocadilhos pra fazer!... E... e também algumas piadas com estereótipos culturais e raciais, e--
BOB ESPONJA - FESTA DAS BOLHAS!!!

sábado, julho 02, 2005

INTERVALO 2 - O que aconteceu com este blog?

E mais uma vez estou aqui, em frente à caixa de texto em branco do site do Blogger, pensando no que eu devo dizer para os leitores de "Eu odeio publicitário", pasmo (mas não muito surpreso) ao perceber que faz exatamente dois meses desde a minha última postagem. Digo agora, sem a mesma postura defensiva das outras vezes que escrevi sobre o mesmo assunto, que é realmente terrível deixar um trabalho inacabado, pessoas aguardando a próxima atualização da página sem ao menos ter a certeza de esta será de fato atualizada. E é mais que natural que a espera canse, e que os leitores vão se dispersando ao longo do tempo. Já reavaliei diversas vezes este blog, e sempre chego à conclusão que ele é ótimo para primeiros leitores, aqueles que visitam a página pela primeira vez e encontram um mar de mensagens já escritas, mas é terrível para os mesmos leitores que retornam no dia, na semana, ou no mês seguinte, e percebem que a única nova adição à página foi um comentário de três linhas sobre os plágios de músicas famosas nas propagandas da Vivo. Não ser lido, ou ser lido menos do que gostaria, é um risco que eu assumi ao decidir que só escreveria quando quisesse, que não submeteria este blog à mesma série de prazos e restrições de horários que se aplicam a todas as demais partes da minha vida. Que só escreveria quando realmente tivesse algo a dizer.

Mas escrever sobre o quê? Me peguei agora com uma absoluta falta de assunto; na verdade, não consigo pensar em nenhum comercial, outdoor ou anúncio de revista recente que tenha desencadeado em mim aquela conhecida reação de revolta que reverbera neste blog. É impossível que as propagandas tenham ficado melhores; aliás, como tudo na cultura contemporânea, a tendência é que fiquem cada vez pior. É muito mais provável a hipótese inversa, a de que as propagandas não ficaram melhores, e sim que meu limiar de tolerância para elas tenha ficado maior. As propagandas já não me ofendem como há dois anos; ou então elas continuam me ofendendo, mas aquilo que eu poderia dizer sobre elas já foi dito por mim antes, sobre outras propagandas no passado cujos erros continuam se repetindo no presente. Será que já esgotei tudo que tinha a dizer sobre o uso diabólico e demenciante da Publicidade e da Propaganda? Convenhamos, é um assunto bastante enfadonho - se bem que tudo fica enfadonho quando é repetido à exaustão. E a única saída que encontrei desta falta de inspiração, como percebem, foi justamente escrever sobre a falta de inspiração. É aquele momento do filme "Adaptação" em que o roteirista finalmente inclui a si mesmo em seu trabalho.

Uma coisa curiosa é que eu tomei a decisão de começar este blog justamente após ver "Adaptação" no cinema. Na verdade, o conteúdo do filme tem menos a ver com o conteúdo do blog do que com a vontade de simplesmente ter um blog, uma porta de saída, não importando sobre o que escrevesse. Não queria simplesmente escrever sobre minha vida ou meu cotidiano, então escolhi publicidade como tema (com o objetivo principal de divulgar a lista de comerciais com plágios musicais). E à medida que continuei publicando novas mensagens no blog, ao me deparar com uma eventual falta de assunto, fui aprendendo como utilizar o tema para escrever sobre o que eu quisesse, ou, de forma indireta, sobre o que eu estava vivendo em cada momento. A inspiração para série "A Experência", por exemplo, veio justamente numa época em que eu passava a maior parte do meu tempo livre assistindo à MTV, por absoluta preguiça mental; mais tarde, adaptei a história ao tema do blog após perceber que a MTV exibe basicamente comerciais (no sentido mais amplo da palavra) e vinhetas sem sentido o tempo todo.

Mas, de fato, eu nunca repetiria aquele pontapé inicial que dei em abril de 2003, quando postei não menos que 16 mensagens. Era uma época diferente, os blogs ainda eram novidade e todos escreviam diariamente no seu, fazendo juz ao nome da ferramenta (weblog = diário na rede). Foi interessante também acompanhar o processo de migração da maioria dos os usuários para os fotologs e, mais recentemente, pro Orkut. Se houve uma queda da popularidade do serviço, a rede provavelmente ganhou em qualidade, e tenho percebido que os blogs realmente bons foram aqueles que perseveraram. Me sinto confortável em dizer que me incluo entre estes que tem a intenção de continuar fazendo algo interessante e divertido, e peço desculpas sinceras por não ter a capacidade de escrever com uma freqüência maior. Tudo que tenho a dizer agora é que este blog não está morto. Posso adiantar que ainda vêm três capítulos de "A Experiência" pela frente; a segunda parte da sessão "Clichês de Propaganda" está praticamente pronta, mas ainda não encontrei um exemplo apropriado de comercial para incluir no texto; e, é claro, mais músicas plagiadas e comerciais ofensivos continuam chegando sem parar, só preciso reunir um bom conjunto de ofensas antes de começar a postar tudo aqui.

Prometo que volto ao normal na próxima mensagem. Aguardem.

domingo, maio 01, 2005

Cara, o que aconteceu com o meu país? Como é possível que a Rede Globo consiga arranjar uma partida da SELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL em homenagem aos seus 40 anos de lavagem cerebral em massa??? Em que realidade é concebível que a festinha particular de uma empresa particular seja animada com a SELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL, exibida com exclusividade em rede nacional e utilizada para aumentar a audiência do horário da quarta-feira após a novela das oito? Qual é a próxima, vão contratar o Exército pra fazer a segurança dos filhos de William Bonner e Fátima Bernardes? Vão usar os Senadores da República pra aprovar leis de isenção fiscal em troca de propaganda pró-governo? Não, peraí, isso já acontece. Pelo amor de Deus!!!

E o pior é ter que agüentar essa avalanche de propaganda da Globo como se fosse um grande favor que eles prestam ao povo brasileiro. Como se fosse a obrigação de todo mundo saber de cor e salteado (e provavelmante já o sabem) a musiquinha tema do "diga bom dia" e cantá-la todos os dias ao chegar no trabalho. Como se a sistemática ausência de cobertura dos movimentos sociais (como pelas eleições diretas e pelo impeachment de Collor) no Jornal Nacional tivesse sido um serviço à nação. E não dá outra: todo mundo cai na jogada. É impressionante, a Globo decide do nada que "Rodeios voltaram à moda!!! Contatem imediatamente a Azaléia para fazer uma linha de botas de cowboy!". E o povo vai atrás, em hordas de emigrantes para os Estados Unidos, só porque o maior sonho de Sol da novela é virar empregada doméstica em Los Angeles. Enquanto isso eu continuo aqui, esperneando nesse blog, rezando pra não ficar maluco. Ou pior, me acostumar com tudo isso.

segunda-feira, abril 18, 2005

OUTDOOR ASSUSTADOR 7 - Parece que a coisa mais importante que aconteceu na cidade neste último mês foi a divulgação do prêmio Top of Mind, o que precipitou, em praticamente todos os outdoors da cidade, o maior desfile de slogans reciclados com semântica duvidosa dos últimos tempos. Um dos premiados, o bloco Camaleão, celebrou esta gigantesca honra com a frase "A melhor lembrança do carnaval da Bahia", o que por sua vez me fez evocar a minha melhor (?) lembrança do carnaval deste ano: a de um outdoor de utilidade pública que consistia na frase "Se for encher o tanque de alegria, deixe o carro em casa". Em um mundo ideal, esta inspirada mensagem talvez até conseguisse seu efeito de previnir os foliões mais desavisados quanto aos riscos de dirigir alcoolizado. Talvez, digamos, se o outdoor não fosse ostensivamente ilustrado com uma imagem de Bel do Chiclete com Banana enchendo, extasiadamente, três copos gigantes de cerveja com uma bomba de gasolina.

Desse jeito, basta aguardarmos o carnaval do ano que vem e daremos de cara com um outdoor de Ivete Sangalo, vestida apenas com duas tiras de lycra e em pose sugestiva, incentivando a prática sexual responsável. Só não sei se esse outdoor ajudaria a reduzir os acidentes de trânsito.

domingo, abril 17, 2005



ONTEM - As Meninas Superpoderosas. Florzinha, Lindinha e Docinho, criadas a partir de um acidente de laboratório, usam seus incríveis poderes para proteger a cidade de Townsville dos mais bizarros acontecimentos que diariamente ameaçam seus cidadãos, incluindo invasões por monstros gigantes e tentativas de dominação mundial por um macaco prolixo. Com seus olhos gigantescos, força descomunal e velocidade estonteante, as meninas se tornaram ícones instantâneos. Alguns chegaram a declará-las símbolos feministas, mas seu apelo universal ultrapassou barreiras de gênero e idade. Sua existência, entretanto, não foi livre de polêmica: sempre dispostas a utilizar a força para resolver qualquer situação, as meninas foram acusadas de incentivar comportamento violento entre as crianças. De fato, alguns de seus episódios mais "sangrentos" chegaram a jamais serem exibidos por emissoras de certos países. Ainda assim, as Meninas Superpoderosas mantiveram sua popularidade ao longo dos anos e seu programa continua sendo um dos maiores sucessos da animação contemporânea.






HOJE - As Meninas Superpatricinh-- quer dizer, Superpoderosas. Florzinha, Lindinha e Docinho, criadas a partir de um acidente de laboratório, usam seu incríveis poderes para proteger a cidade de Townsville da pior ameaça até então - o mau-gosto. Sempre produzidas e maquiadas, as meninas saem em seu carro conversível para o centro da cidade e põem em ação a mais fantástica de suas habilidades: fazer compras. Com seus cartões de crédito pré-pagos, as meninas nunca saem de uma loja sem carregar pelo menos três sacolas de compras. É claro que vilões estão à espreita, com suas roupas espalhafatosas e aparência nada agradável. Mas nada disso é problema para as meninas: arremessando suas sacolas de compras, elas promovem um makeover instantêneo em seus inimigos, vestindo-os com roupas super transadas da linha Girl Power das Meninas Superpoderosas. Logo em seguida, todos dançam uma coreografia ao som da nova música de Jessica Simpson e o dia é salvo mais uma vez. As meninas então voltam pra casa e retomam suas atividades, que incluem desfilar em frente ao espelho com suas roupas novas, pintar as unhas e fofocar sobre o fim do casamento de Brad Pitt e Jennifer Aniston.

Qual das violências é a pior?

domingo, março 13, 2005

A EXPERIÊNCIA - CAPÍTULO #07
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TIMMY - Life is made of idea-ahs!
JENNY - Life is a great idee-yah!
TIMMY - Cool ideas!
VALDECI - Fanaidias!
(No sofá, Timmy, Jenny e Valdeci continuam cantando animadamente o jingle da Panasonic. A cerca de quatro metros acima do chão, Timmy, Jenny e Valdeci flutuam com as pernas cruzadas, como se estivessem sentados em esteiras invisíveis, e assistem à cena)
JENNY FLUTUANTE - Olha só pra isso. A essa altura não dá mais pra saber se estamos sendo sarcásticos ou simplesmente idiotas.
VALDECI - Roldiorlóóóóó...
TIMMY & JENNY - ENJOY-YEAH-IT!!!
VALDECI - Roldiorlaif...
TIMMY & JENNY - YEAAEAAAAEAAH...
TIMMY FLUTUANTE - Não sabia que a gente sabia cantar tão bem.
(Valdeci Flutuante começa a inchar como um balão)
JENNY FLUTUANTE - Estou tão decepcionada com você, Timmy.
TIMMY - Então é assim que é a minha cabeça vista de cima? Olha, Jenny, nossas cabeças vistas de cima.
(Valdeci Flutuante explode)
***
TIMMY - NÃO!!!
(Timmy acorda no sofá, olhando assustado para os lados. A TV está exibindo um videoclipe de Ana Carolina. Jenny e Valdeci olham entediados para a tela)
JENNY - Acordou finalmente, hein?
TIMMY - Nossa, que sonho esquisito... Nem me lembrava mais como era sonhar. Sabe, às vezes eu não consigo...
VALDECI - ...saber se é mesmo um sonho ou se é realidade. Você já disse isso.
TIMMY - Eu já disse isso? Não me lembro de ter dito isso...
(Timmy volta a olhar pra TV, pensativo)
JENNY - Você devia aproveitar esse tempo que usa pra dormir e começar a pensar em um plano pra nos tirar daqui.
TIMMY - Dormir...
VALDECI - Jenny, posso me sentar no sofá agora?
JENNY - Valdeci, eu estou ignorando você agora. Por que não volta a fazer o jogo das vinhetas da MTV?
VALDECI - Mas não tem a menor graça depois que você descobre o padrão de repetição das vinhetas!
TIMMY - Mas se eu dormi... por que meu eletrodo não foi ativado? Jenny, por que meu eletrodo não foi ativado??!!!
(Jenny e Valdeci vomitam jatos de suco de acerola sobre Timmy)
***
TIMMY - NÃO!!!
PROFESSOR - Calma, Timmy, está tudo bem agora.
(Timmy está deitado em uma cama de hospital, com o professor sentado à beira do leito)
TIMMY - Professor??? Onde eu... Cadê Jenny e Valdeci?
PROFESSOR - Timmy, a experiência fugiu ao nosso controle. Escute, é muito importante que você preste atenção ao que eu vou dizer agora. Não temos muito tempo--
TIMMY - O que aconteceu? Eles estão bem?
PROFESSOR - Timmy, preste atenção... Talvez você não consiga mais reconhecê-los. Eles-- NÃO! É TARDE DEMAIS!!!
(O Professor é repentinamente sugado pela janela até o céu)
***
JENNY - NÃO!!! ESSE FILME É HORRÍVEL! HORRÍVEL!!!
TIMMY - Jenny, tudo bem com você?
JENNY - Timmy? Eu... Foi um pesadelo. Eu acordei, mas ainda estava sonhando... E eu era você, e você - quer dizer, eu - eu estava no hospital com o professor--
TIMMY - Mas eu sou você, Jenny. E você é eu. Ou já se esqueceu?
(Jenny grita horrorizada ao perceber que ela e Timmy são gêmeos siameses)
***
TIMMY - NÃO!!!
ANA CAROLINA - Acho que nesse último você se superou, rapazinho.
(No horizonte não se vê nada além de um vasto céu azul. Timmy e Ana Carolina estão sentados no sofá, que juntamente com a TV flutua sobre as nuvens)
TIMMY - Você é... Eu te conheço?
ANA CAROLINA - Eu sou Ana Carolina, a cantora de MPB. E já respondendo à sua próxima pergunta, sim, ainda estamos dentro do "sonho". Assim, eu também sou parte de você, de certa forma.
TIMMY - Então eu ainda estou sonhando...
ANA CAROLINA - Não no sentido estrito, porque seu estado de consciência neste momento não é o do sono verdadeiro. Seus olhos ainda estão abertos e olhando para a televisão, e por isso seu eletrodo ainda não foi ativado. Este mundo em que estamos agora é basicamente uma criação da sua própria mente, mas ainda influenciado pelas informações sensoriais que você está recebendo do ambiente.
(Timmy olha para o lado e vê um logo da MTV sendo perseguido por um telefone celular)
ANA CAROLINA - É muito bonito aqui em cima, não acha? Você já viajou de avião antes?
TIMMY - Não, eu... escuta, há algum jeito de acordar deste sonho? Não que eu realmente queira acordar, mas...
ANA CAROLINA - Esta pseudo-alucinação, ou "sonho", parece ser o resultado de uma reação paradoxal do seu organismo às altas doses de cafeína a que foi exposto ultimamente. Mas se você já está lúcido o suficiente para compreender a situação em que se encontra agora, parece que o efeito já está passando. Não deve demorar muito para que você acorde completamente.
TIMMY - Ah, tá certo. Eu entendo...
(Timmy contempla por alguns minutos o mar de nuvens sob seus pés. Um estranho sentimento de paz invade sua alma)
TIMMY - Sabe, eu sei que você é só uma criação da minha mente, mas... Como é que se diz? Eu... Eu gostei de conversar com você. Queria poder ficar mais tempo aqui.
(Ana Carolina sorri gentilmente para Timmy. Ela se levanta e começa a ser encoberta pelas nuvens)
ANA CAROLINA - Pode até ser que eu não esteja mais ao seu lado, mas você tem dentro de si a força para responder a todas suas perguntas. Lembre-se disso, Timmy. Como eu disse, de certa forma eu sempre vou estar dentro de você...
(Timmy se levanta do sofá e se apressa em direção a Ana Carolina)
TIMMY - Mas como eu faço isso? E se eu não encontrar a resposta para as minhas perguntas?
ANA CAROLINA - A resposta para os seus problemas já está dentro de você, Timmy. Você só precisa prestar mais atenção ao seu--
(A tentativa de Ana Carolina de evanescer misteriosamente entre as nuvens é novamente frustrada por Timmy, que a segura pelo pulso)
TIMMY - Mas o que é essa resposta? Eu vou poder ajudar Jenny e Valdeci com isso?
ANA CAROLINA - Pelo amor de Deus-- O ELETRODO!!! O maldito eletrodo! ESSA é a resposta que já está dentro de você, entendeu? Pronto! Agora eu fui óbvia o bastante pra você? As crianças dessa geração, eu vou te contar...
***
(Timmy de repente se vê no sofá, ao lado de Jenny e com Valdeci sentado no chão, como de costume. A TV continua exibindo 24 horas seguidas de programação da MTV, como de costume. As três crianças continuam trancadas na mesma sala, sem nenhuma perspectiva de que a experiência chegue ao fim, como de costume. Mas há um brilho, um brilho que há muito tempo não se via no olhar de Timmy. Ele agora já sabe o que fazer)

domingo, janeiro 23, 2005



Eu não agüento ver as calçadas da Barra e Ondina, intransitáveis por pedestres, invadidas por pilhas de madeirite e andaimes. Os prédios destes bairros tendo suas fachadas restauradas anualmente, enquanto outros bairros da cidade sequer possuem asfalto nas ruas. A estátua de Cristo da Barra transformada em um outdoor gigante do Banco do Brasil. As ruas e avenidas da cidade mapeadas e numeradas como se fossem um estacionamento de shopping center. O campus da UFBA convertido em um estacionamento particular. Minha rua convertida em um mictório público.

A cidade, à venda.

domingo, janeiro 09, 2005

A EXPERIÊNCIA - CAPÍTULO #06
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(Pra mim chega! Eu não agüento mais!!! Este pobre narrador não pode presenciar mais um segundo desta lenta espiral decadente em que os meninos Timmy, Jenny e Valdeci se meteram. Que mentes doentias poderiam ter orquestrado tão horripilante experiência? Acho que jamais saberei, pois, a partir de agora, não mais tomarei parte nesta narração dantesca)
...
(Mas eu não consigo parar de ler! É como um acidente de caminhão, todo mundo desacelera pra ver. As crianças hão de me perdoar, mas... com vocês, o sexto capítulo de "A Experiência")
VOZ MISTERIOSA - É, parece que está tudo correndo como planejado.
(A voz pertence a uma moça de cabelos curtos e vestida com um jaleco. Recostada em sua cadeira de trabalho, com as pernas cruzadas, ela leva até a boca um copinho contendo café)
PROFESSOR - Pois é, está tudo correndo bem até então. Eu diria bem até demais.
(O professor está de pé atrás de uma cadeira, onde está sentado um homem de óculos também vestido de jaleco. A sala é sombria, iluminada somente pelo brilho de uma dúzia de monitores, todos mostrando, em vários ângulos, a mesma cena: três crianças caídas no chão entre um sofá e uma televisão)
SCIENCE LADY - Será que você não se apegou demais aos objetos de estudo?
PROFESSOR - Mais do que vocês dois, com certeza. Foi tão estranha a última visita, as crianças levaram três minutos para perceber que eu tinha entrado na sala. Não sei se a essa altura vou conseguir fazer uma análise imparcial dos dados.
SCIENCE GUY - Acho que o desenho de estudo que você planejou neutraliza adequadamente o viés do observador, Professor. Ao invés disso, seria mais importante, na minha opinião, analisar os efeitos que os contatos humanos periódicos estão provocando nos objetos.
(O homem de jaleco aperta displiscentemente um botão no painel de computador à sua frente. Imediatamente, as crianças nos monitores se levantam com um sobressalto, assumindo de forma automática seus assentos no sofá - e no chão, no caso de Valdeci)
PROFESSOR - ...hmmm, qual é o feeding que eles estão recebendo agora?
SCIENCE GUY - "Jornal da MTV", últimos 3 minutos. Depois serão exibidas duas horas e meia de videoclipes.
SCIENCE LADY - Não vamos conseguir muitos dados novos nessas próximas horas, então nós deveríamos aproveitar esse tempo para revisar alguns vídeos que ainda precisam ser analisados.
SCIENCE GUY - Eu sugiro os números F25604 a F27304, em face aos acontecimentos recentes.
PROFESSOR - Por que estes, especificamente?
SCIENCE LADY - Ah, sei quais são. Você vai ver logo, logo...
(Ela leva alguns segundos para localizar os arquivos de vídeo em seu computador. As imagens gravadas são, então, reproduzidas no monitor diretamente em frente ao professor)
PROFESSOR - Isso é... vinte minutos atrás, correto?
SCIENCE LADY - Não, isso foi gravado há dois meses e sete dias.
PROFESSOR - O quê? Tem certeza?
(O vídeo mostra as crianças em estado de absoluto desespero, se jogando contra as paredes da sala e tentando destruir a TV)
SCIENCE LADY - O que você está vendo é a primeira vez em que observamos este fenômeno, durante o "Cliperama"...
(Outro vídeo é exibido, com as crianças espancando-se mutuamente)
SCIENCE LADY - ...e aqui, durante uma chamada do "Jornal da MTV"...
(Há nova mudança no conteúdo das imagens, que desta vez mostram as crianças arranhando seus rostos e mastigando copinhos de café)
SCIENCE LADY - Novamente no "Cliperama". Depois desse dia isso se tornou praticamente um ritual diário.
SCIENCE GUY - Nós apelidamos o fenômeno de "efeito Rafa da MTV".
SCIENCE LADY - ...e aqui, no "Jornal da MTV", "Cliperama", novamente "Jornal da MTV"... toda vez que esses programas são exibidos, os objetos de estudo apresentam comportamento semelhante. Mais especificamente, quando aquele apresentador em particular surge na tela.
PROFESSOR - Que interessante... e em nenhum momento nós planejamos algo parecido para esta experiência.
SCIENCE LADY - Nós acreditamos que este fenômeno esteja acelerando em 30% a taxa de surgimento das alterações de personalidade. Isso pode reduzir consideravelmente o tempo e os encargos econômicos da pesquisa.
SCIENCE GUY - Sem falar que o setor de planejamento estava cogitando vender os resultados para uma empresa de armamentos interessada na criação de métodos humanizados de interrogação compulsória.
(O professor checa o monitor à sua direita para ver como estão as crianças. Elas continuam sentadas, olhando vidradas para a TV).
PROFESSOR - Algum problema com o cronograma na última semana?
SCIENCE LADY - Ah, Professor, que bom que você me lembrou. Nós tivemos um problema semana passada com nossos agentes infiltrados na sede do canal, que deixaram passar um trecho do horário eleitoral para o feeding da experiência.
PROFESSOR - Nada muito grave, eu imagino.
SCIENCE LADY - É, nós já resolvemos o problema, mas em todo o caso eu gravei o momento em que o sinal vazou para que você mesmo desse uma olhada.
(Ela reproduz um novo arquivo de vídeo, desta vez mostrando as crianças sentadas em suas posições de costume. A TV exibe fixamente a mensagem "Desliga essa TV e vá ler um livro!", com o logo da MTV no canto da tela. Lágrimas silenciosas escorrem dos rostos das crianças)
SCIENCE LADY - Temos também um vídeo interessante da última exibição do-- que barulho é esse?
SCIENCE GUY - Está vindo do painel...
(O professor olha novamente para as crianças no monitor à direita. Ele precebe que algo está errado)
PROFESSOR - Por que as crianças estão rolando no chão? O "Jornal da MTV" já deixou de ser exibido, certo?
SCIENCE GUY - Deixa eu ver... Ah, aqui está o problema. Eu deixei o cantil do café em cima do controle dos eletrodos!
SCIENCE LADY - É a quinta vez essa semana que isso acontece!
TODOS - Ahahahahahahahahahahah!
(O cantil de café é movido. Em um mostrador, o nível de atividade dos eletrodos de Timmy e Jenny volta ao normal, mas as leituras de Valdeci continuam anormalmente altas. No monitor, Valdeci se comprime com força cada vez maior contra o chão)

sexta-feira, dezembro 10, 2004